Autor: Fernando de Padua Laurentino - Butantã II - USP - Turma D.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

28- O fenômeno do Bullying


Brincadeira ou Bullying?

Bullying tem as seguintes características:

- ação repetida e intencional
- duração prolongada
- falta de motivação
- desequilíbrio de poder
- impossibilidade de defesa

O bullying na mídia

O bullying não é prática nova nas escolas. Esta prática violenta aparece como parte da vida de muita gente em filmes e séries de televisão . É o caso da série de TV americana "Todo mundo odeia o Chris".



A história é inspirada na adolescência do comediante e ator Chris Rock, passada no bairro do Brooklin, em Nova York, na década de 80. Entre várias referência à década e da vida no Brooklin se destaca a vida escolar do Chris. Ele é o único aluno negro de uma escola particular. Lá, passa a ser perseguido e sofre preconceito de todas as pessoas, principalmente de um garoto chamado Joe Caruso. Ao longo de toda a série, e fazendo valer todas as características do bullying citadas acima, Chris sofre nas mãos de Caruso.


Porém, o que vale destacar aqui é que na série o bullying aparece como algo que faz parte da vida escolar tal como alunos, lousa e professores. Claro que se trata de um programa de humor. Mas está aí um problema: tratar a questão apenas como base para o humor. Pode ser que para Chris Rock o bullying que ele sofreu não tenha deixado maiores marcas, mas isto está longe de ser uma regra.


Infelizmente o bullying tem aparecido na mídia por causa de uma de suas consequências mais perversas: a morte da vítima e de outras pessoas (que, no geral, não são os perseguidores). A forma como aparece na mídia é insuficiente para tratar a questão como ela demanda.

27- Práticas de Cidadania

ETAPAS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE ATENÇÃO DIRETA

- reconhecimento, caracterização e contextualização do campo;
- estabelecimento de parcerias com as comunidades-alvo e seus representantes;
- levantamento conjunto das demandas a serem atendidas;
- problematização das demandas e definição dos temas dos projetos.

Ao ver as etapas para a elaboração de projetos não pude deixar de lembrar de um texto que li a quase nove anos que me impressionou muito naquela época. Ao relê-lo percebo como ainda é impressionante a dedicação de algumas pessoas a favor da escola pública. Neste caso na maior favela de São Paulo: Heliópolis. O que me fez lembrar do texto foi a relação entre as etapas para a elaboração de projetos e a maneira como se deu tal dedicação do Diretor Braz Rodrigues Nogueira.


O diretor dos excluídos
Folha de São Paulo 17/02/2002

(...)
"Em 1995, quando passou em concurso da prefeitura para diretor de escola, Nogueira pôde fazer uma lista das escolas nas quais gostaria de trabalhar, devido à sua boa colocação. Das 14 que selecionou, a E.M.E.F. Presidente Campos Salles era a primeira. A escolha teve dois motivos: na época, morava perto e podia ir a pé ao trabalho; e, ainda como professor, havia percebido que tinha mais chance de realização pessoal nas comunidades de periferia. "Não é por ter mais trabalho a ser feito, a questão é de não negar a minha origem e saber que, se as pessoas têm oportunidade, têm mais condição de desenvolver suas capacidades, de se encaminhar na vida. "

Quatro meses antes de assumir o cargo, Nogueira passou a frequentar a escola, sem dizer quem era. Com outros moradores, pulava o muro nos finais de semana para jogar bola, como pretexto para estabelecer contato com a comunidade. Em 21 de novembro de 1995, chegou oficialmente como diretor, para o espanto daqueles que já o conheciam. Naquele dia, em que enfrentou uma chuva de demandas e percebeu a luta dos diferentes grupos pelo seu apoio, colocou as mãos na cabeça e pensou: "Meu Deus, o que foi que eu fiz?".
(...)
Ao começar o seu trabalho de diretor, Nogueira procurou aproximar-se dos professores, dos alunos e da equipe técnica. Foram feitas reuniões com os pais sobre educação e cidadania. "Mostrávamos a escola por dentro, do jeito que ela é, com todos os problemas e contradições. O objetivo era levar o pai a perceber que ele é responsável, que também é problema dele."

Ao mesmo tempo, os professores eram levados a conhecer a região. Nogueira lembra que, ao visitar um barraco construído sobre palafitas à margem de um córrego, uma menina ficou feliz ao identificar sua professora, conduzindo-a orgulhosamente por sua casa. De volta à escola, a professora chorou, chocada com as condições precárias em que viviam seus alunos.

A comunidade também foi envolvida. "Os problemas do entorno também são da escola. Se os direitos das pessoas que vivem ao redor do colégio não são atendidos, está comprometido o direito à educação."

O cerne do projeto é o Conselho da Escola, (...)A partir do Conselho, foram formadas comissões, sendo a mais importante a de Relação Escola-Comunidade, responsável por resolver problemas de comportamento. Se um aluno ameaça um professor, a comissão vai à casa do estudante discutir a questão.

No início, Nogueira fazia esse trabalho sozinho, e hoje ri ao lembrar que era visto como louco. "Vou a qualquer lugar, à 'boca', aonde precisar. Não tenho medo do ser humano e não sou moralista. Antes de o cara ser assassino, ele é gente. Esses meninos são bons, não são bandidos. Matam, sim, mas não são bandidos. Não podemos responsabilizar a pessoa individualmente pelo que ela faz. Todo o coletivo é responsável", defende.
(...)
Mesmo afastado das salas de aula, Nogueira continua a ministrar oficinas, especialmente de direitos humanos, e ensina caratê todos os sábados na escola —é faixa preta há 26 anos. "Parece cafona, mas meu sonho é derrubar os muros de todas as escolas, para que quem trabalha lá possa estar sereno e tranquilo, sabendo que é parte de uma comunidade maior."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u242.shtml

24- Diversidade e Pluralidade Cultural na Escola

A alteridade na cultura e na educação:

O outro como fonte de todo o mal.
O outro como sujeito pleno de uma marca cultural.(Essencialização da Diferença)
O outro como alguém para tolerar.

"O inferno são os outros." J.P.Sartre

QUEM É O OUTRO?




Chimamanda Adichie, escritora nigeriana.

“O perigo de uma única história”
"...como nós somos impressionáveis e vulneráveis face a uma história, principalmente quando crianças."
"Então, é assim que se cria uma única história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão."
“Todas essas histórias, fazem-me quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e neglicenciar as muitas outras histórias que me formam. A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única história”.

23- Assembleias Escolares e Democracia Escolar


Dr. Korczac entre crianças

No começo da década de 90, muito antes de eu ser professor, assisti a um filme que me impressionou muito: Dr Korczak's children. Lembro-me que assisti na TV no canal Cultura.
O filme conta a história verídica de um médico judeu polonês , Dr. Janusz Korczak, que cuidava de um orfanato de crianças judias no Gueto de Varsóvia, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial. A história trágica, como muitas na 2a. Guerra, termina com a com o Dr. acompanhando suas crianças para o campo de concentração depois de várias oportunidades que ele teve para fugir da morte.
Mas uma outra coisa me chamou a atenção no filme. O orfanato funcionava como escola. E não era uma escola qualquer. Era uma escola democrática e uma das cenas mais interessantes tratava de uma assembleia (Tribunal de Arbitragem) que as crianças faziam para resolver seus conflitos. Discutia-se de tudo. Até o que para nós seria a mais banal das coisas, ainda mais levando-se em consideração o contexto histórico e geográfico daquela escola.
Tempos mais tarde vim a saber mais do Dr. Korczak e de sua pioneira escola democrática do Gueto de Varsóvia. Ao estudar mais sobre escolas democráticas vi o grau de pioneirismo que foi seu orfanato.
Sobre o sistema de assembleia, que chamavam de Tribunal, se parece muito com a assembleia das escolas atuais dado o fato que ela é do início do século XX. No livro "Como amar uma criança" (de 1919) Dr Korczak descreve o regimento do Tribunal:

TRIBUNAL DE ARBITRAGEM
O lugar que dedico nesse livro aos tribunais de crianças pode parecer, para alguns, demasiadamente importante. É porque vejo neles o primeiro passo para a emancipação da criança, a elaboração e proclamação de uma Declaração dos Direitos da Criança. Ela tem o direito de exigir que seus problemas sejam tratados com imparcialidade e seriedade. Até agora tudo dependia da boa ou má vontade do educador, do seu humor naquele dia. Realmente é tempo de se pôr fim a esse despotismo.
O CÓDIGO DO TRIBUNAL DE ARBITRAGEM
Se alguma criança agiu mal, começamos por perdoá-la. (...)
Um tribunal ainda não é a justiça, mas fazê-la reinar deve ser seu principal objetivo; um tribunal talvez não seja a verdade, mas a verdade é sua maior aspiração.
(...)
COMO SE QUEIXAR?
Em um lugar bem visível é colocado um quadro sobre o qual todos tem o direito de escrever o assunto da sua queixa: escrever seu nome e o daquele que cita na justiça. Todas as crianças, todos os adultos (inclusive o diretor) podem ser citados para comparecer perante o tribunal. (...)
Korczak, Janusz. Como amar uma criança. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1983. p. 307,308.


Monumento em homenagem ao Dr. Korczac em Yad Vashem, Jerusalém.

20- Violência e educação

Meditação Transcendental chega às escolas estaduais do Rio de Janeiro

Entre as mais diversas tentativas e projetos para a diminuição da violência nas escolas a prática meditativa soa com estranheza. Acreditar que de 15 a 30 minutos por dia de silêncio, concentração e postura imóvel possam diminuir a violência praticada na escola e no seu entorno é, no mínimo, duvidoso para a grande maioria dos ocidentais. No entanto, diante do enorme desafio que é o trabalho empreendido nas escolas contra a violência, qualquer proposta com bons pressupostos é bem vinda.
A prática meditativa, mesmo que não venha a diminuir os índices de violência na escola, traz benefícios à concentração e ao equilíbrio emocional. Isto já é comprovado cientificamente.
Mas o que importa aqui é destacar a iniciativa. Só podemos diminuir a violência fazendo algo pra isso. O imobilismo, o silêncio e o medo são frutos deste mesmo fenômeno que para crescer basta que não façamos nada.

"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

Maiakóvski

19- Podem a Ética e a Cidadania ser ensinadas?

Uma escola que não é democrática não educa para a democracia

"Uma sociedade democrática forma cidadãos democráticos, e ao mesmo tempo, uma formação democrática, aperfeiçoa uma sociedade democrática" Prof° José Sergio Carvalho.
Podemos pensar, então, que uma escola democrática forma pessoas democráticas, e ao mesmo tempo, uma educação democrática, aperfeiçoa uma escola democrática.


Eu penso que a discussão em torno de se é possível ensinar ética e cidadania é fundamental. Entendo, naquilo que é possível para mim, tanto a posição de Sócrates quanto a de Protágoras. A minha conclusão pessoal é que, apesar das limitações de se definir um mestre que possa ensinar tais valores de ética e cidadania, a aprendizagem da ética e da cidadania é uma construção que se dá no cotidiano através das relações interpessoais.
Neste sentido me aproximo de Protágoras. A escola é um lugar privilegiado de relações, que se baseiam na relação ensino-aprendizagem, para a construção sadia de valores de ética e cidadania. E como dizia Protágoras, não cabe apenas aos professores a tarefa de ser exemplo ético, cabe a todos que na escola trabalham e participam. Através das ações e exemplos cotidianos é que aprende e se firmam valores de cidadania. Se, segundo Foucault, a "ética é a estética da existência" é no fazer da nossa existência, a vida, que podemos desenvolver os recursos estéticos, a ética, para embelezá-la.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA

Palestra do Profo. Titular de Ética, da Faculdade de Filosofia da USP, Cláudio de Barros Filho.


(...) toda reflexão que o homem faz sobre a melhor maneira de viver atende em filosofia pelo nome de moral.
(...) o instinto humano não esgota as necessidades existenciais do homem. A vida do homem transcende o instinto do homem.


(...)Para que a vida tenha alguma chance de valer a pena ela precisa ser livremente deliberada.
(...) a solução para a vida boa é a livre reflexão de cada vivente sobre a própria vida.
(...) A liberdade não garante vida boa, mas a liberdade é condição necessária porque a vida não tem nenhuma chance de valer a pena se ela for regida pela coação, pela repressão, se for determinada pelo medo. (...) Aonde há medo a vida não pode valer a pena


As pessoas costumam dizer: "Ah! Vivemos uma crise de valores, vivemos uma crise moral. Mas é previsível porque como temos tão poucas oportunidades para escolher qual vida é a melhor para se viver que acabamos a desaprender a valorar a própria existência."
Escolher fazer ou não alguma coisa é uma questão moral. E a vida tem chance de valer a pena quando você tem liberdade de escolha.

16- A Construção de Valores e a Dimensão Afetiva

A escola se torna casa quando ela traz significados afetivos



Este trecho do filme "Escritores da Liberdade" trata de um aluno que no começo do ano letivo na festa de recepção criada pela sua professora de inglês pede a palavra para ler uma redação do seu diário.
Durante a leitura todos de sua turma, inclusive a professora, ficam sabendo que sua família foi despejada de maneira dramática e que ele havia se tornado um homeless. Apesar das dificuldades econômicas sua "louca" professora de inglês era sua única ponta de esperança. A volta à escola suaviza seu sofrimento porque no caminho é cumprimentado por dois amigos de sala da turma de inglês. E ao conversar com eles sobre as atividades desenvolvidas pela professora de inglês ele começa a se sentir melhor. Já na escola ele descobre que a primeira aula da grade é com a esta professora e ao entrar em sala, apesar de tudo, ele sente como se todos os problemas do mundo não são mais importantes. Ele se sente em casa.


O aspecto afetivo da relação do aluno com a professora e demais colegas de sala é central na motivação do aluno não apenas frequentar a escola como também buscar aprender. Apesar das dificuldades cotidianas o aluno busca na escola o conforto e acolhimento. A casa, como abrigo, que ele perde ele consegue, mesmo que parcialmente, recompor emocionalmente na escola. Trata-se, no caso do filme, de situação crítica ainda mais romantizada pelo cinema. No entanto, não deixa de ser verdade que o bom relacionamento com colegas de escola e com professores constitui motivação para ir para escola e estudar.

15- Dimensões Constitutivas do Sujeito Psicológico

O julgamento sem uma análise das diferentes dimensões do sujeito

A tentativa de entender o aluno apenas sob a perspectiva cognitiva tende, certamente, ao equívoco. É muito comum avaliarmos (uma avaliação pessoal, informal e superficial) o aluno por aquilo que ele apresenta em sala de aula. Parece ser mais fácil lidar com pessoas quando elas apresentam apenas uma faceta constituinte do sua personalidade. No entanto, na medida em que nos aproximamos do aluno e descobrimos novos aspectos ele adquire riqueza e complexidade e, ao mesmo tempo, torna nossa avaliação (ou julgamento) mais difícil.
Certa vez numa escola onde trabalhei os alunos apresentavam trabalhos artísticos numa feira cultural. Um aluno que até então quase todos os professores tinham uma avaliação negativa dele subiu ao palco e fez uma apresentação teatral inesquecível. Além dos professores que ficaram de queixo caído e se perguntando: "Esse é aquele?" "Onde se escondia este artista dentro daquele aluno?" ouvi também uma orientadora dizer o seguinte: "Esse tipo de coisa dificulta nossa reprovação no conselho de classe."
Ela queria dizer que aquela faceta artística do aluno, até então desconhecida, poderia ser usada como contraargumentação a uma retenção no conselho de classe. Acho que não preciso dizer que aquele aluno já estava condenado à reprovação muito antes de acontecer o conselho.

Também quem é professor já deve ter passado pela seguinte experiência: conhecer os pais dos alunos. Daí sai da reunião de pais com os seguintes pensamentos: "Agora está explicado porque ele(a) se comporta daquela maneira...", "Em vista dos pais até que esse aluno é muito equilibrado..." e tantas outras análises superficiais mas que dão uma dimensão do erro de avaliar pessoas (alunos) que mal conhecemos. Desconsideramos do aluno sua base afetiva (família, pais, parentes etc.), sua base biológica (saúde, capacidade física etc) e seu contexto sociocultural (onde vive, o que faz quando não está na escola, seus interesses etc.). Em outras palavras, óbvias, desconhecemos de fato nosso aluno.

É valido ver o vídeo do post 24- Diversidade e Pluralidade na Escola que trata do perigo da história única. Porque na medida em que conhecemos nossos alunos apenas na dimensão cognitiva também lidamos com uma história única desse aluno.

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Faltaria alguma dimensão?

Lembrei-me de Mozart - o famoso compositor austríaco - que começou a aprender música aos 4 anos de idade, aos 5 compunha e aos 6 viajava para apresentações para a elite europeia. Sua primeira ópera foi finalizada quando ele tinha apenas 11 anos. O que explica tal genialidade? Sua constituição biológica, sua carga genética? A relação com os pais? Sua capacidade cognitiva? O meio austríaco onde nasceu? Eu não acredito que estas perguntas estejam próximas de responder a questão.

Tenho dois filhos gêmeos de três anos. Eles são idênticos, ou seja, tem a mesma constituição genética. Recebem a mesma educação, frequentam os mesmos lugares, tem o mesmo grau de afetidade dos pais e familiares. Até por causa da idade (eles são crianças) são tratados indistintamente. No entanto são pessoas com personalidades absolutamente distintas. Que dimensão psicológica explica?

12- Perspectivas atuais de Educação de Valores

Educação de valores para além da teoria e da sala de aula

As propostas de uma educação de valores na escola contempla a gestão democrática da escola com a participação da comunidade a discustir questões de base ética e de valores.

É proposto também uma integração espacial entre o fora e o dentro dos muros escolares. Esta integração vislumbra levar para a comunidade questões de conteúdo ou de trabalho curricular dos alunos. A abertura da escola nos finais de semana teria que estabelecer alguma relação com o que é feito durante a semana com os alunos.


No sentindo inverso os alunos desenvolveriam atividades e/ou projetos a partir da realidade da comunidade/bairro onde está inserida a escola. Assim ao invés de buscar questões e/ou problemas do mundo ou de lugares distantes se aproveitaria da própria realidade do bairro da escola para se estudar.
Por último a participação do jovem, do aluno de forma atuante é outra base para a construção de valores. A percepção da sua responsabilidade na construção e desenvolvimento das atividades cria nos alunos o sentimento de identificação com a escola ao ver nela marcas do seu protagonismo.


em construção

11- Perspectivas atuais das Pesquisas em Psicologia Moral


Valores referem-se a trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior. Surgem da projeção de sentimento positivos sobre objetos, e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou si mesmos. Profo. Ulisses Araújo

A mudança de valores na mídia.

Campanha da Fiat: Está na hora de você rever seus... valores!

Os valores não podem ser comprados.

Campanha Mastercard: ...não tem preço! É porque tem muito valor.

ÉTICA, ARTE DE VIVER




Muitos anos atrás, em um sítio afastado da cidade, uma humilde lavradora costumava recolher retalhos de cores variadas e bem vistosas. Quando tinha retalhos suficientes, com a dedicação de quem gosta daquilo que faz, costurava-os um a um com um ponto pequeno, firme e adequado, unindo-os de tal forma que não havia risco de se separarem e de o trabalho se desfazer.
Depois de vários dias e várias semanas costurando retalhos, com suas mãos hábeis e delicadas, ela estendia a peça sobre a cama de casal e sorria diante da obra de sua fé, confiança, auto-estima e dedicação.
Era uma colcha multicolorida que alegrava os olhos de toda a família e que pesava o suficiente para manter-se na cama sem escorregar para o chão. Os retalhos, bem costurados, guardavam calor para o amor dos esposos. Era como um cobertor, que abrigava para oferecer descanso, aquecia para dar energia e fazia adormecer para sonhar.
Perto desse sítio havia uma escola com uma única professora, que tinha a responsabilidade de ensinar todas as disciplinas. Ela não era especializada em nenhumas delas, mas preparava muito bem suas aulas para cumprir com eficiência o seu trabalho.
As pessoas, ao se referirem a ela, diziam que tinham uma mística, uma vocação e um modo estranho de... dinamizar a aprendizagem. Em matemática ensinava a honestidade, dizendo que se deve aprender a fazer contas e usar os números para não se enganar e nem enganar a ninguém.
Ensinava a multiplicar serviço, a somar cooperação, a subtrair má-vontade e a dividir lucros e virtudes e entre todos. Associava a matemática com as disciplinas sociais, relacionando as operações ao tempo e ao espaço.
Fazia viagens geográficas pelo mundo e pela história, ressaltando a bondade dos protagonistas. Valorizava não só os inventores, os líderes e os generais, mas também os soldados, os indígenas, os comerciantes e os lavradores.
Ensinava a amar a arte, os artistas, as obras e os artesãos; mostrava a beleza da natureza e a relacionava com a gratidão de Deus.
Unia a vida do universo com a do ser humano e com a de todas as criaturas na área das ciências naturais.
Por meio dos sinônimos, antônimos e conjugações, mostrava a importância da comunicação, quando expressa por palavras elegantes, otimistas, delicadas, respeitosas e tolerantes.
Na área do desenho, deixava voar a imaginação com os símbolos que tivessem significado para a vida, a família, a pátria, a identidade e o sentido de pertencer à mãe terra.
Acreditava na brincadeira e misturava-se aos alunos nos momentos lúdicos que enchiam aprendizagem de alegria e espontaneidade.
Era uma professora que unia os valores a todas as disciplinas. Como a camponesa que tecia os retalhos, essa mestra costurava conhecimentos entre si com um ponto que dava consistência a todos.
Como aquela mulher, ela tecia uma colcha que se transformava em formação integral. Era uma educação única, que entusiasmava os alunos com o dinamismo necessário para manter o interesse do grupo. Entre uma disciplina e outra, a costura conseguia fazer com que a educação servisse para a vida. Nenhuma disciplina era um retalho separado. Unidas, concentravam calor, alegria e otimismo.
Era uma professora que transmitia amor por seu trabalho. Para ela, lecionar era um meio de formação holística. Compreendia que os valores não se ensinam, mas integram-se ao trabalho, são vividos e sentidos.
A ética era uma costura com a qual ela tecia não só conhecimentos, mas também seu próprio trabalho, sendo consequente e dando o melhor de si.
Mais do que a mente, ela atingia o coração dos jovens.

Fonte: Ética: Arte de Viver –

8- A construção psicológica dos valores


A construção de valores pela afetividade

Se a construção de valores se dá através de trocas afetiva não se faz necessário
refletirmos sobre a qualidade das relações interpessoais no espaço escolar?
A nossa identificação (gostarmos ou não) de determinados objetos/pessoas/de si mesmo está diretamente ligado à forma como nos relacionamos afetivamente com estes.
Com o espaço escolar não é diferente. Entendo espaço escolar como lugar onde se estabelecem relações humanas baseadas, principalmente, na relação de ensino-aprendizagem. O espaço escolar, portanto, é mais que coisa ou objeto. É mais que paredes, corredores, salas, páteo, refeitório etc. Se neste espaço as relações de autoridade, compromisso, trocas, coleguismo etc acontecerem baseadas na confiança, no respeito ao outro, no amor, é grande a chance de uma identificação afetiva daqueles que frequentam tal espaço. Sentir-se bem ou mal num determinado espaço tem mais a ver com a qualidade das relações humanas estabelecidas neste espaço do que o sentido cru das suas áreas físicas.
Se a escola é um lugar de identificação afetiva do aluno fica mais fácil o aprendizado dos diferentes valores que ali são ensinados. Na medida que o espaço escolar é pleno de significações positivas o aluno se identifica com a escola e vai querer (re)produzir na sua vida o que foi (ou o que é) sua vida escolar.

Criar valores é, também, destruir idéias

"Pau que nasce torto morre torto"

A transformação humana não é só possível como é uma característica que nos identifica. O homem é um ser mutável e como tal é o aluno. O aluno não nasce torto nem tampouco morre torto. É comum nas escolas (na sala dos professores) frases como: "Ano que vem se prepare para a turma que está entrando no ensino médio.", "ah! você dá aula agora para tal aluno? Hã! Eu dei aula para ele no 7o. ano e sei muito bem como ele é!" etc. Como se alunos não tivessem exatamente numa fase da vida que pudessem aprender e construir seus valores. Tais crenças e ideias vão no caminho contrário do que podemos entender sobre educação. Tais ideias repercutem na sociedade como um todo. A mídia reproduz tais concepções a respeito de um ser humano pouco flexível quanto aos seus valores. Os filmes estão repletos de personagens que são bandidos e mocinhos do começo ao fim. Lembrei-me de um filme brasileiro bastante conhecido que vai na contramão deste enredo. Central do Brasil (1998) tem como personagem principal Dora (Fernanda Montenegro) que ao longo da película se transforma devido à relação estabelecida com um menino. A relação se constroi a partir de uma viagem (real e psicológica) que os personagens fazem pelo Brasil.
A vida ensina e com ela nos transformamos. A escola pode oferecer as ferramentas necessárias para que não precisemos empreender uma viagem (literal ou não) para mudarmos para melhor.

7- Educação e Ética

"Ética é a estética da existência" M. Foucault


"a ética se estabelece mais pela via dos exemplos do que numa dimensão teórica"


Ética e Moral

"Ética é o conjunto de valores e princípios que você e eu usamos para decidir as três grandes questões da vida que são: quero? devo? posso?
(...)
Você define (isso) através do modular, do exemplar. Define através de princípios da sociedade sejam religiosos ou não. Define através de normatizações.
(...)
Cautela: não existe ninguém sem ética.
(...)
Moral é a prática de uma ética. Ética é uma concepção, ética é o princípio e moral é a prática. (...) Não é que a ética é relativa, a moral é relativa. A ética ela é sempre de uma época, de um grupo mas ela é uma tentativa de ser universal, exemplo: Carta dos Direitos Humanos."

Mario Sergio Cortella

4 - A Escola e a Construção de Valores

A Declaração Universal dos Direitos Humanos como ponto de partida


Um dos pontos mais controversos dos aspectos para promover uma educação em valores é o trabalho intencional com valores. Quais seriam estes valores? Como defini-los? A questão é complexa por causa de variáveis geográficas, históricas, sociais etc. de cada comunidade escolar. Haveria alguns valores éticos comuns? Seria possível estabelecer parâmetros éticos que pudessem servir às diferentes comunidades num país tão diverso quanto o Brasil?
A dificuldade para se chegar a uma resposta razoável para tais questões não podem nos impedir de buscarmos alguma proposta.
Acho muito pertinente a proposta do uso da Declaração Universal dos Direitos Humanos como uma base sobre princípios éticos. Seus 30 artigos podem ser um excelente ponto de partida para desenvolver, trabalhar e refletir sobre noções de preservação da vida humana, de regras de convivênvia pacífica com perspectivas para a melhoria da qualidade de vida.
Tais atividades não seriam para legitimar a Declaração. Poderia ser, num primeiro momento, a compreensão, extensão e aplicação de seus artigos. Depois seria possível analisar se os artigos contemplam plenamente as necessidades da comunidade escolar. Seria possível ampliá-la ou complementá-la?

A declaração é capaz de garantir todos os direitos?

Um único artigo da lista já gera conteúdo suficiente para muitos debates e um trabalho que poderia ser desenvolvido por diferentes grupos sob diferentes perspectivas. A possibilidade de participação, interação de diferentes disciplinas sobre determinados artigos levaria a um trabalho interdisciplinar e/ou multidisciplinar. As possibilidades são muitas.
Entretanto, como dito anteriormente, este é um ponto de partida. Temos que pensar outras propostas para desenvolver e ampliar o debate sobre valores e princípios éticos. Há que se buscar aspectos particulares e de identidade de determinadas coletividades e grupos sociais que fazem parte da comunidade escolar.

3 - O juízo moral da criança




Pensando sobre os princípios de heteronomia e autonomia da criança me ocorreu a seguinte questão: Não seria na passagem destes dois momentos, na construção do juízo moral infantil ou juvenil, que se inicia as noções de ética?
A criança quando no estado de heteronomia, ou seja, em que ela aprende que as regras existem e advém de fontes variadas, está ainda norteada por suas emoções. A construção e estabelecimento de regras na sua vida está amparada no amor e no medo que pode sentir de pais, parentes, professores, adultos em geral etc. De tal forma que o respeito que ela tem se dá unilateralmente e de acordo com as emoções que ela tem em relação ao adulto. Neste caso há predominância de uma coação baseada nestas subjetividades.
É possível falar de uma ética de valores neste caso? Haveria uma escolha moral baseada na subjetividade da criança? Parece-me que não.
No estado de autonomia a criança começa a ter regras internalizadas. A construção de limites na sua vida começa a ser pautada também por alguma análise incipiente da realidade. Começa a ter a noção do respeito mútuo e este, por sua vez, parece ser melhor aplicado na relação entre iguais. Na relação entre crianças da mesma idade, colegas de escola, amigos etc. não se estabelece a diferença da autoridade, da diferença de idade, geração ou de hierarquia familiar, da escola, da igreja etc. Talvez neste contexto onde o respeito, o amor, os interesses comuns prevaleçam há mais espaço para escolhas morais. Poderíamos começar a falar de ética neste caso?
A resposta não parece ser tão óbvia. A construção da ética se baseia apenas na objetividade das relações? O medo e a afetividade nas relações também estabelece limites éticos?