Autor: Fernando de Padua Laurentino - Butantã II - USP - Turma D.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

27- Práticas de Cidadania

ETAPAS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE ATENÇÃO DIRETA

- reconhecimento, caracterização e contextualização do campo;
- estabelecimento de parcerias com as comunidades-alvo e seus representantes;
- levantamento conjunto das demandas a serem atendidas;
- problematização das demandas e definição dos temas dos projetos.

Ao ver as etapas para a elaboração de projetos não pude deixar de lembrar de um texto que li a quase nove anos que me impressionou muito naquela época. Ao relê-lo percebo como ainda é impressionante a dedicação de algumas pessoas a favor da escola pública. Neste caso na maior favela de São Paulo: Heliópolis. O que me fez lembrar do texto foi a relação entre as etapas para a elaboração de projetos e a maneira como se deu tal dedicação do Diretor Braz Rodrigues Nogueira.


O diretor dos excluídos
Folha de São Paulo 17/02/2002

(...)
"Em 1995, quando passou em concurso da prefeitura para diretor de escola, Nogueira pôde fazer uma lista das escolas nas quais gostaria de trabalhar, devido à sua boa colocação. Das 14 que selecionou, a E.M.E.F. Presidente Campos Salles era a primeira. A escolha teve dois motivos: na época, morava perto e podia ir a pé ao trabalho; e, ainda como professor, havia percebido que tinha mais chance de realização pessoal nas comunidades de periferia. "Não é por ter mais trabalho a ser feito, a questão é de não negar a minha origem e saber que, se as pessoas têm oportunidade, têm mais condição de desenvolver suas capacidades, de se encaminhar na vida. "

Quatro meses antes de assumir o cargo, Nogueira passou a frequentar a escola, sem dizer quem era. Com outros moradores, pulava o muro nos finais de semana para jogar bola, como pretexto para estabelecer contato com a comunidade. Em 21 de novembro de 1995, chegou oficialmente como diretor, para o espanto daqueles que já o conheciam. Naquele dia, em que enfrentou uma chuva de demandas e percebeu a luta dos diferentes grupos pelo seu apoio, colocou as mãos na cabeça e pensou: "Meu Deus, o que foi que eu fiz?".
(...)
Ao começar o seu trabalho de diretor, Nogueira procurou aproximar-se dos professores, dos alunos e da equipe técnica. Foram feitas reuniões com os pais sobre educação e cidadania. "Mostrávamos a escola por dentro, do jeito que ela é, com todos os problemas e contradições. O objetivo era levar o pai a perceber que ele é responsável, que também é problema dele."

Ao mesmo tempo, os professores eram levados a conhecer a região. Nogueira lembra que, ao visitar um barraco construído sobre palafitas à margem de um córrego, uma menina ficou feliz ao identificar sua professora, conduzindo-a orgulhosamente por sua casa. De volta à escola, a professora chorou, chocada com as condições precárias em que viviam seus alunos.

A comunidade também foi envolvida. "Os problemas do entorno também são da escola. Se os direitos das pessoas que vivem ao redor do colégio não são atendidos, está comprometido o direito à educação."

O cerne do projeto é o Conselho da Escola, (...)A partir do Conselho, foram formadas comissões, sendo a mais importante a de Relação Escola-Comunidade, responsável por resolver problemas de comportamento. Se um aluno ameaça um professor, a comissão vai à casa do estudante discutir a questão.

No início, Nogueira fazia esse trabalho sozinho, e hoje ri ao lembrar que era visto como louco. "Vou a qualquer lugar, à 'boca', aonde precisar. Não tenho medo do ser humano e não sou moralista. Antes de o cara ser assassino, ele é gente. Esses meninos são bons, não são bandidos. Matam, sim, mas não são bandidos. Não podemos responsabilizar a pessoa individualmente pelo que ela faz. Todo o coletivo é responsável", defende.
(...)
Mesmo afastado das salas de aula, Nogueira continua a ministrar oficinas, especialmente de direitos humanos, e ensina caratê todos os sábados na escola —é faixa preta há 26 anos. "Parece cafona, mas meu sonho é derrubar os muros de todas as escolas, para que quem trabalha lá possa estar sereno e tranquilo, sabendo que é parte de uma comunidade maior."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u242.shtml

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