Autor: Fernando de Padua Laurentino - Butantã II - USP - Turma D.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

23- Assembleias Escolares e Democracia Escolar


Dr. Korczac entre crianças

No começo da década de 90, muito antes de eu ser professor, assisti a um filme que me impressionou muito: Dr Korczak's children. Lembro-me que assisti na TV no canal Cultura.
O filme conta a história verídica de um médico judeu polonês , Dr. Janusz Korczak, que cuidava de um orfanato de crianças judias no Gueto de Varsóvia, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial. A história trágica, como muitas na 2a. Guerra, termina com a com o Dr. acompanhando suas crianças para o campo de concentração depois de várias oportunidades que ele teve para fugir da morte.
Mas uma outra coisa me chamou a atenção no filme. O orfanato funcionava como escola. E não era uma escola qualquer. Era uma escola democrática e uma das cenas mais interessantes tratava de uma assembleia (Tribunal de Arbitragem) que as crianças faziam para resolver seus conflitos. Discutia-se de tudo. Até o que para nós seria a mais banal das coisas, ainda mais levando-se em consideração o contexto histórico e geográfico daquela escola.
Tempos mais tarde vim a saber mais do Dr. Korczak e de sua pioneira escola democrática do Gueto de Varsóvia. Ao estudar mais sobre escolas democráticas vi o grau de pioneirismo que foi seu orfanato.
Sobre o sistema de assembleia, que chamavam de Tribunal, se parece muito com a assembleia das escolas atuais dado o fato que ela é do início do século XX. No livro "Como amar uma criança" (de 1919) Dr Korczak descreve o regimento do Tribunal:

TRIBUNAL DE ARBITRAGEM
O lugar que dedico nesse livro aos tribunais de crianças pode parecer, para alguns, demasiadamente importante. É porque vejo neles o primeiro passo para a emancipação da criança, a elaboração e proclamação de uma Declaração dos Direitos da Criança. Ela tem o direito de exigir que seus problemas sejam tratados com imparcialidade e seriedade. Até agora tudo dependia da boa ou má vontade do educador, do seu humor naquele dia. Realmente é tempo de se pôr fim a esse despotismo.
O CÓDIGO DO TRIBUNAL DE ARBITRAGEM
Se alguma criança agiu mal, começamos por perdoá-la. (...)
Um tribunal ainda não é a justiça, mas fazê-la reinar deve ser seu principal objetivo; um tribunal talvez não seja a verdade, mas a verdade é sua maior aspiração.
(...)
COMO SE QUEIXAR?
Em um lugar bem visível é colocado um quadro sobre o qual todos tem o direito de escrever o assunto da sua queixa: escrever seu nome e o daquele que cita na justiça. Todas as crianças, todos os adultos (inclusive o diretor) podem ser citados para comparecer perante o tribunal. (...)
Korczak, Janusz. Como amar uma criança. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1983. p. 307,308.


Monumento em homenagem ao Dr. Korczac em Yad Vashem, Jerusalém.

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